segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Como arrancar dinheiro a um milionário

(Foto: Página de Facebook de Alex Blumberg)
A SIC está prestes a arrancar com a versão portuguesa do “Lago dos Tubarões”. Trata-se de um programa que permite a empreendedores tentarem convencer os empresários, supostamente milionários, que compõem o júri do programa, a financiarem o negócio que têm ou que vão lançar. Segundo informações divulgadas pela SIC já se inscreveram mais de 850 pessoas.
Estes candidatos não perderiam nada em ouvir a série de programas de rádio “StartUp Podcast”, disponível aqui. É a história da tentativa de Alex Blumberg constituir uma empresa de produção de podcasts. Alex trabalhou para uma das maiores referências radiofónicas nos Estados Unidos, o programa “This American Life”. Depois foi uma das vozes do programa “Planet Money”, até que resolveu construir o seu sonho americano: lançar uma empresa sua e, eventualmente, tornar-se milionário. Havia, no entanto, um pequeno problema para conseguir transformar esse sonho em realidade: precisava de dinheiro.
Acontece que, através do “Planet Monet” tinha conhecido alguns investidores que ganham a vida a apostar em novos projectos de negócio. Marcou reuniões e lá foi tentar, literalmente, vender-lhes a sua ideia. Gravou tudo e começou a fazer uma série de podcasts que documentavam esse processo, da “forma mais honesta e transparente que conseguir”, explicou ele num desses episódios.
A tarefa não foi fácil. Apesar de achar que sabia como apresentar-se e o que dizer aos potenciais investidores, começou logo a cometer erros. A primeira investida correu mal, a ponto de, no fim, ser o milionário com quem almoçou a pôr-se na sua pele e a dizer-lhe que história devia contar para ter alguma hipótese de agarrar o dinheiro de um milionário.

Conceitos de sucesso muito diferentes

Basicamente tinha de ser capaz de ‘vender o seu peixe’ em dois minutos. De apresentar uma confiança e ambição sem limites. De apresentar um projecto que resolva um determinado problema que afecte o maior número possível de pessoas. De saber explicar de que forma o vai conseguir. De saber qual é a verba concreta que precisa de angariar. De saber explicar porque é a melhor pessoa à face da terra para levar a cabo o projecto, que vantagem competitiva tem para conseguir transformar o projecto num negócio de sucesso. E até de responder a perguntas como quanto é que vai gastar para conseguir cada ouvinte e quanto é que ele vai render, em termos financeiros.
Ao longo desta e de muitas outras reuniões, ficou a saber que para estes investidores o conceito de sucesso é bem diferente do que ele tem. Alex ficaria satisfeito se conseguisse se através da sua empresa fazer aquilo que gosta de fazer e ainda por cima facturar uma simpática soma de dinheiro para si e para distribuir pelos seus investidores. Mas acabou muito rapidamente por concluir que estes empresários querem muito mais do que isso. Por regra, só admitem investir se entenderem haver uma boa possibilidade de estarem perante um novo “Twitter”, “Facebook”, “Tumblr”, ou, pelo menos de uma empresa que, em relativamente pouco tempo, tenha uma prestação que lhe permite ser vendida a um desses gigantes, de forma a ganharem com o negócio, pelo menos, 10 ou 20 vezes o que investiram.
Ter percebido isso levou-o, numa determinada altura (episódio 2), a mostrar-se profundamente desanimado, após mais uma reunião. Num telefonema para a sua mulher mostrou-se desalentado, por estar a apresentar aos seus potenciais investidores “a maior coisa que já me propus fazer, que está para além da minha imaginação, que nem sequer sei se vou conseguir pôr de pé e... não é suficiente, para eles é pouco, vivem num outro mundo”. 

Objectivo: Um milhão e meio de dólares

O objectivo de Alex Blumberg era angariar um milhão e meio de dólares para criar uma empresa que, no primeiro ano produza três podcasts semanais. E, apesar de, sobretudo na fase inicial, ter apanhado alguns baldes de água fria, acabou por conseguir o dinheiro. As coisas começaram a dar a volta no quarto episódio, quando conseguiu convencer um antigo colega de universidade a entrar no negócio. E sobretudo quando a ele se juntou Andrew Mason, fundador da “Groupon”. Que, curiosamente, não tinha como objectivo fundamental ganhar rios de dinheiro com este projecto. No decorrer da conversa, Andrew confessou que entrou no barco porque queria ter acesso a Alex e aos seus contactos, para que o ajudassem a desenvolver projectos que tem, de alguma forma, relacionados com a rádio e a comunicação.
A partir daí, o dinheiro começou a entrar. Importante foi também o facto do podcast “Startup”, que Alex foi fazendo para ilustrar o processo de formação da empresa, ter começado a obter sucesso. Alguns empresários souberam do projecto por esse meio, contactaram-no e acabaram por se tornar investidores. Mas não só. Também muitas pessoas que nunca tinham sido empresárias ficaram interessados em fazer parte do projecto. E algumas conseguiram-no, pois no episódio 7, Alex convidou os ouvintes a tornarem-se accionistas, reservando para eles uma fatia de 200 mil dólares do capital inicial. O que conseguiu em apenas dois ou três dias, apesar de, entretanto, descobrir que a legislação norte-americana era bastante restritiva e colocava condições que limitavam bastante a entrada dos cidadãos em pequenas empresas como a sua.

Texto relacionado: Este homem é craque a fazer programas de rádio e a pedir dinheiro aos seus ouvintes

Problemas e mais problemas

Criar uma empresa não é fácil. Conseguir dinheiro é uma dor de cabeça, mas há mil e um outros problemas a resolver. Problemas que, a certa altura, Alex Blumberg achou que não conseguia ultrapassar sozinho. Mas encontrar um co-fundador não foi tarefa fácil.  Até que encontrou em Matt Lieber o parceiro ideal. Mas ainda houve que decidir a percentagem de cada um, uma negociação que se revelou complicada. A proposta inicial de Alex era ridícula, ele próprio acabou por perceber isso, subiu a parada e passou a ter ao lado alguém para ajudá-lo a arrancar com o projecto.

E havia muitas decisões a tomar. Uma delas era a escolha do nome da empresa. Parece um pequeno pormenor, mas ouvindo o quinto episódio, percebe-se a angústia, o tempo e o esforço que consumiu. É que, como explicou Alex, era urgente, naquela fase, criar um e-mail, cartões de apresentação e site, mas para se avançar com tudo isso, primeiro, precisavam de um nome. E não conseguiam decidir-se por um que reflectisse o espírito do projecto e que fosse apelativo. Às tantas, acabaram por ter de recorrer a uma empresa especialista e, entre as muitas hipóteses que lhes apresentaram, lá escolheram “Gimlet Media”. Assunto resolvido.

Outra das decisões que tiveram de tomar foi atribuir um valor à empresa que… ainda não existia. Se já tivesse actividade, a questão seria relativamente simples, bastaria analisar dados como a facturação, os lucros e a evolução e perspectivas de mercado para chegar a um número. Mas como é que se avalia uma empresa que não existe, que não tem negócio, facturação e, muito menos, lucro? Depois de muito pensarem no caso, optaram por avaliá-la em 10 milhões de euros. Um valor muito acima da média de avaliação das startups norte-americanas, mas que não afugentou os investidores que já se tinham comprometido com o projecto.

O passo seguinte foi encontrar instalações e contratar pessoal para avançar com o primeiro programa produzido pela Gimlet Media. Chama-se “Reply All” e pode ser escutado aqui.

Jorge Eusébio



Leia também neste blog: Este homem é craque a fazer programas de rádio e a pedir dinheiro aos seus ouvintes


Num dos próximos postos vamos ver como um "native ad" ia colocando em risco a Gimlet Media mal lançou o seu primeiro podcast.

INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR:
 -  O nome de Alex Blumberg consta num dos lugares de destaque da lista dos 25 melhores podcasts de sempre, acabada de publicar pelo site Slate. Um dos programas que produziu em 2008 para "This American Life", The Giant Pool of Money, ficou na 2ª posição.  

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