domingo, 21 de dezembro de 2014

Investigação jornalística sob a forma de podcast






Terminou a primeira temporada de “Serial”, o maior sucesso de sempre de uma forma de comunicar na net ainda pouco conhecida em Portugal, o podcast, que basicamente se pode 'traduzir' como programas de rádio distribuídos na net. 
Foram 12 episódios que se estima terem tido um total de downloads entre 25 e 30 milhões. E, sobretudo, nas últimas semanas, não deve ter havido um dia sem que ‘tropeçasse” em, pelo menos, três ou quatro textos sobre a série apresentada por Sarah Koening.

“Serial” é uma investigação jornalística ao assassínio ocorrido em 1999 da jovem estudante Hae Min Lee, na cidade norte-americana de Baltimore. O seu ex-namorado, Adnan Syed, acabaria por ser detido, acusado do assassínio e condenado a prisão perpétua. 

Ao longo de mais de um ano, Sarah Koening recolheu informação, gravações e entrevistou pessoas. Cronometrou uma viagem de carro importante para a acusação e condenação do jovem. Investigou a existência de uma cabine telefónica de onde Adnan terá feito a chamada para o homem que o entregou à polícia. Passou a pente fino as chamadas de telemóvel feitas por Adnan no dia do assassínio. Ouviu as gravações dos interrogatórios feitos pela polícia e as relativas aos dois julgamentos. Entrevistou telefonicamente – muitas vezes – Adnan. Falou com polícias, investigadores e advogados. Tentou investigar a fundo todos os indícios e elementos relacionados com o crime.

Os segredos do sucesso

Uma investigação que ia transformando em programas semanais, os quais se converteram  num verdadeiro fenómeno na internet. Escreveram-se, seguramente, milhares de artigos sobre o programa. Criaram-se grupos para discutir o caso. Produziram-se rábulas sobre “Serial” e até músicas. Muitos fãs fizeram mesmo questão de ir a Baltimore, ver o cenário onde tudo aconteceu e até investigar por conta própria. 

O programa até levou ao lançamento de duas campanhas de angariação de fundos. Uma para criar uma bolsa de estudo de 25 mil dólares com o nome da vítima, Hae Min Lee, e outra para criar uma aplicação digital através da qual seja possível investigar crimes não resolvidos.

O que esteve, afinal, na base de todo este sucesso? Em primeiro lugar, o ponto de partida: saber se o homem que há 15 anos está preso é ou não culpado. Em segundo, a forma como a história foi contada: em episódios, como se de uma série de ficção de grande produção se tratasse. Ou de um reality show.

Outro elemento que prendeu cada vez mais gente à série foi, por um lado, se ir verificando que a investigação tinha muitas pontas soltas e que a defesa do jovem acusado foi deficiente. Mas, ao mesmo tempo, surgiam indicações que apontavam para a sua culpabilidade.
Ao longo de toda a série, o suspense manteve-se e, mesmo no último, o desfecho não foi conclusivo.

A forma como a jornalista, Sarah Koening, contava a história foi, igualmente, determinante para o sucesso de audiências da série. Ela não se inibia de partilhar com os seus ouvintes a apreciação que, a cada momento, ia fazendo ao evoluir do processo. Era como se estivesse a pensar em voz alta. Uma técnica que lhe valeu algumas críticas. Enquanto que alguns entendiam que esta forma de contar a história lhe dava maior credibilidade e transparência, outros criticavam-na por se afastar da atitude de isenção e distância que um jornalista deve ter no seu trabalho.


Sucesso garante financiamento para segunda série

Seja como for, a verdade é que “Serial” foi a estrela maior de um forma de comunicação, o podcast, que teve um ano de grande exposição e sucesso. 

Embora em Portugal o consumo e procura de podcasts seja muito residual – tal como a pouca importância que lhes é dada pelos jornalistas e órgãos de comunicação – nos Estados Unidos é um meio já bastante popular, havendo, de acordo com um estudo feito pela Edison Research, cerca de 39 milhões de pessoas que, mensalmente, ouvem podcasts.

Com o sucesso desta série e projectos como “StarUp Podcast” e “99%Invisible”, entre outros, espera-se que os anunciantes entrem em força nesta forma de comunicar, dando-lhe o impulso financeiro que precisa para se afirmar globalmente.

No caso de "Serial", já está garantida uma segunda série, sobre um outro caso. Os anunciantes que se juntaram à serie ficaram satisfeitos com os resultados obtidos e vão continuar a abrir os cordões à bolsa. Os ouvintes assumiram-se como uma segunda e importante fonte de financiamento, ao responderem afirmativamente a uma breve campanha de fundos lançada no decorrer de um dos programas.

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