Terminou a primeira temporada de “Serial”, o maior
sucesso de sempre de uma forma de comunicar na net ainda pouco conhecida em
Portugal, o podcast, que basicamente se pode 'traduzir' como programas de rádio
distribuídos na net.
Foram 12 episódios que se estima terem tido um total
de downloads entre 25 e 30 milhões. E, sobretudo, nas últimas semanas, não deve
ter havido um dia sem que ‘tropeçasse” em, pelo menos, três ou quatro textos
sobre a série apresentada por Sarah Koening.
“Serial” é uma investigação jornalística ao assassínio
ocorrido em 1999 da jovem estudante Hae Min Lee, na cidade norte-americana de
Baltimore. O seu ex-namorado, Adnan Syed, acabaria por ser detido, acusado do
assassínio e condenado a prisão perpétua.
Ao longo de mais de um ano, Sarah Koening recolheu
informação, gravações e entrevistou pessoas. Cronometrou uma viagem de carro
importante para a acusação e condenação do jovem. Investigou a existência de
uma cabine telefónica de onde Adnan terá feito a chamada para o homem que o
entregou à polícia. Passou a pente fino as chamadas de telemóvel feitas por
Adnan no dia do assassínio. Ouviu as gravações dos interrogatórios feitos pela
polícia e as relativas aos dois julgamentos. Entrevistou telefonicamente –
muitas vezes – Adnan. Falou com polícias, investigadores e advogados. Tentou
investigar a fundo todos os indícios e elementos relacionados com o crime.
Os segredos do sucesso
Uma investigação que ia transformando em programas
semanais, os quais se converteram num verdadeiro fenómeno na internet.
Escreveram-se, seguramente, milhares de artigos sobre o programa. Criaram-se
grupos para discutir o caso. Produziram-se rábulas sobre “Serial” e até
músicas. Muitos fãs fizeram mesmo questão de ir a Baltimore, ver o cenário onde
tudo aconteceu e até investigar por conta própria.
O programa
até levou ao lançamento de duas campanhas de angariação de fundos. Uma para criar
uma bolsa de estudo de 25 mil dólares com o nome da vítima,
Hae Min Lee, e outra para criar uma
aplicação digital através da qual seja possível investigar
crimes não resolvidos.
O que
esteve, afinal, na base de todo este sucesso? Em primeiro lugar, o ponto de
partida: saber se o homem que há 15 anos está preso é ou não culpado. Em
segundo, a forma como a história foi contada: em episódios, como se de uma
série de ficção de grande produção se tratasse. Ou de um reality show.
Outro
elemento que prendeu cada vez mais gente à série foi, por um lado, se ir
verificando que a investigação tinha muitas pontas soltas e que a defesa do
jovem acusado foi deficiente. Mas, ao mesmo tempo, surgiam indicações que
apontavam para a sua culpabilidade.
Ao longo de
toda a série, o suspense manteve-se e, mesmo no último, o desfecho não foi
conclusivo.
A forma como a jornalista, Sarah Koening, contava a
história foi, igualmente, determinante para o sucesso de audiências da série.
Ela não se inibia de partilhar com os seus ouvintes a apreciação que, a cada
momento, ia fazendo ao evoluir do processo. Era como se estivesse a pensar em
voz alta. Uma técnica que lhe valeu algumas críticas. Enquanto que alguns
entendiam que esta forma de contar a história lhe dava maior credibilidade e
transparência, outros criticavam-na por se afastar da atitude de isenção e
distância que um jornalista deve ter no seu trabalho.
Sucesso garante financiamento para
segunda série
Seja como for, a verdade é que “Serial” foi a estrela
maior de um forma de comunicação, o podcast, que teve um ano de grande
exposição e sucesso.
Embora em Portugal o consumo e procura de podcasts
seja muito residual – tal como a pouca importância que lhes é dada pelos
jornalistas e órgãos de comunicação – nos Estados Unidos é um meio já bastante
popular, havendo, de acordo com um estudo feito pela Edison Research, cerca de
39 milhões de pessoas que, mensalmente, ouvem podcasts.
Com o sucesso desta série e projectos como “StarUp Podcast” e
“99%Invisible”, entre outros, espera-se que os anunciantes entrem em força
nesta forma de comunicar, dando-lhe o impulso financeiro que precisa para se
afirmar globalmente.
No caso de "Serial", já está garantida uma
segunda série, sobre um outro caso. Os anunciantes que se juntaram à serie
ficaram satisfeitos com os resultados obtidos e vão continuar a abrir os
cordões à bolsa. Os ouvintes assumiram-se como uma segunda e importante fonte
de financiamento, ao responderem afirmativamente a uma breve campanha de fundos
lançada no decorrer de um dos programas.
Jorge Eusébio
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